Vida Roxo

Crises de uma carioca perdida

quarta-feira, abril 7

Eu vivo atrasada.
Eu sou atrasada.
Ou eu me atraso ou eu chego antes.
Mas nesse caso em específico eu cheguei atrasada.
Passei a simpatizar mais com o novo aparelhinho da casa depois que escutei esse disco nele.



Todo mundo já passou por essa fase.
Eu, que agora, mese depois do fenômeno e de todos os comentários é que fui me encontrar profundamente apaixonada por esse disco.
Estamos tendo um caso de amor.
É foda pra caralho.
Nada como um aparelho de som novo!

terça-feira, abril 6

A modernidade é uma merda.
Notícias importantes correm via e-mail.
Índios marcam visitas à suas aldeias via celular e cobram U$ 100,00 por uma apresentação com direito a dança.
O acesso às informações é mole, fácil, rápido, vasto.
Por causa disso, às vezes você não pode dar informação nenhuma sobre nada.
Eu reclamo, mas sou vítima e viciada nela.
Não consigo me imaginar morando cercada de mato e bichos primitivos com composição corpórea que me foge à compreensão, sem boates, cinemas, restaurantes confortáveis, café com creme e outras maravilhas desse fantástico mundo moderno.
Feliz era minha avó.
Eu não sei reconhecer os valores das pequenas coisas.
Coisa pequena pra mim é café com creme (tô com um certo desejo sim, e daí?), para ela era o canto dos passarinhos.

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E porquê que eu insisto?
Toda viagem de faculdade que eu faço acaba em fria.
Eu tenho um lado bonzinho que acha que sempre vai valer a pena porque eu estou conhecendo lugares que não conhecia, mas sempre que eu volto e piso em casa, volto e piso exausta e brutalmente mau humorada e arrependida.
Porquê que eu insisto?
Já devia estar mais que descolada no assunto.
Já juntei milhagens mais que suficientes.
Tudo bem, Paraty é uma cidade super jeitosinha e simpática. Mal preservada, onde tudo é muito caro, onde a casa do príncipe dá pr’um mangue horroroso e fedorento, mas onde as pessoas são simpáticas, o sol brilha bonito e a noite é muito bonita. Cidadezinha de interior de novela. Novela daquelas escritas.
Mas não compensou todo o estresse que eu tive na pousada, no ônibus e todas as furadas grupais em que nos metemos.
A impressão em todas as viagens é que o destino final não chega nunca.
Na manhã do segundo dia eu já conto nos dedos quanto falta pra voltar pra casa.
Acho que encerrei minhas atividades nesse setor, sabe?
Viagem agora só as que eu escolher fazer sozinha. Essa coisa de viagem feita por eles só me dá dor de cabeça.

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Sumida.
Calada.
Relapsa.
Não nego nenhuma das alternativas acima.
Estou resolvendo a vida.
Enrolada.
Correndo.
E sofrendo as conseqüências do abandono àqueles que me amam.
Resolvendo.
Tendo vitórias.
Mas com saudades.
Tantas saudades que já me derreto e choro de ver fotos pela internet (a modernidade é uma merda).
Precisando de colo.
Precisando dividir as coisas.
Ver as pessoas e estar com elas.
Para variar, eu preciso das pessoas.
Não vai ser ainda, mas logo eu vou poder fazer isso.
E saber que o logo chega é bom.
Não ajuda muito em certas ocasiões, mas é bom.

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É que eu sou compreensiva pra caramba.
A rainha da psicologia barata.
Mas faço igualzinho a outras pessoas.
Toda vez que aparece um mosquito, em vez de pedir colo, eu saio batida.
Reclamo aqui, é verdade.
Agora, pegar o telefone e pedir o dellivery não acontece.
Eu, como muitas pessoas que eu conheço, padeço do grande mal de querer resolver tudo sozinha. E para piorar, eu sei que isso é praticamente uma impossibilidade.
Ninguém consegue resolver tudo sozinho.
E eu podia ficar divagando sobre o assunto hoooras...
...Mas não quero.

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Tô um bocado mau humorada esses dias.
Até me perguntaram: “Você é mau humorada?”
Um pouco.
Eu diria que eu sou ranzinza.
Aquele tipo de pessoa que rosna, reclama, acha defeito em tudo, mas faz, vai, se diverte e que as pessoas acham que reclama de onda, para fazer tipo, e acham até engraçadinho.
Só eu que sei de verdade quando a coisa fica feia.
E, olha, a coisa tá feia.
E quando ela fica feia, eu fico chata.
Eu me acho chata.
Morro de pena das pessoas que são obrigadas a conviver comigo.
E sabe o que é pior?
A tendência, ao longo que os anos forem passando, é só piorar.
Pena das pessoas.

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De novo.
A vida tem que ter música.
Sons.
É verdade, mais que absoluta, que a música acalma os monstros.
A gente, às vezes, nem percebe a real importância disso na vida até ficar sem ter como escutar nossas músicas preferidas ou não no aconchego do próprio lar.
Aí você vai e compra um aparelho de som novo.
Prateado, potente, moderno e com todas as pequenas sacanagens disponíveis, mas que tem um som infinitamente inferior ao seu aparelho antigo, que tinha décadas de uso, crostas negras de poeira e afins.
De novo, feliz era vovó, que só precisava comprar um aparelho de som na vida porque ele durava para sempre.
Hoje, nada dura.
Aí você se contenta com esse sonzinho meia bomba – pelo menos é um aparelho de som – e acha lindinho ele ser prateado e te dizer goodbye.
(Ele acaba sendo muitíssimo mais educado que a maioria das pessoas que habita o planeta hoje em dia, veja só...)

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Aí você percebe também que precisa aprender a comprar cds novos, porque nem tem cds suficientes para poder fazer rodízios maravilhosos dentro do aparelho.

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Ai, ai.

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Enfim.
Viva.