Vida Roxo

Crises de uma carioca perdida

sexta-feira, março 5

Alguém pode me explicar por quê caralhos o céu SEMPRE desaba antes das minhas viagens?!?
É pessoal.
Só pode.

quarta-feira, março 3

Quarta-feira.
Acordei, depois da primeira noite em dormi decentemente em dias e fui me arrumar para ir à Faculdade.
Enquanto tomava banho, realizei que não é à toa que estou virando uma velhinha careca. Meu cabelo leva uma dose surreal de química. Tem a tinta, tem o shampoo anti-frizz (é, eu sou uma vítima da propaganda, mas não sei se o negócio faz efeito ainda. Usei hoje pela primeira vez.), fora o ar e essas coisas todas...
Alguém já parou para pensar que as embalagens de shampoo têm, em média, 300ml? Menos que uma lata de cerveja. E duram muito mais.
De qualquer forma, fui, sim, atacada de novo.
Aula de administração, com dinâmica de grupo?
Tô fora.
Não estou nada grupal, dinâmica ou administrativa.
Posso me dar esse luxo hoje.
Li o jornal, a Veja e resolvi ver TV.
Nenhum filme animador para este período matutino de folga, só um sobre uma mãe alcoólatra obrigada a conviver com a própria mãe e seu filho adolescente depois do suicídio de alguém (era essa a sinopse), o que não me pareceu adequado.
Resolvi zapear.
Na MTV, passava o clip de “Champagne Supernova”, que eu nunca tinha visto e só me fez chegar à conclusão de que ninguém merece aqueles óculos e cortes de cabelo como modelo de porra nenhuma nos dias de hoje e que os Beatles eram muito melhores até nisso.
Globo, Xuxa. É surreal, mas eu não entendo como eu conseguia gostar dela quando era criança e hoje tremo de pavor só em ouvir suas musiquinhas para crianças. Lavagem cerebral total. O caso é que a loira mandava ver num lá lá lá que contava a historinha de uma linda sereia. No caso, uma moça mulata de cabelos louros, sorriso de Globeleza, cauda mal e porcamente feita no computador que era acompanhada em sua dança por outra moça sem cauda que fingia batucar num tambor enquanto o submarino da loira passava ao lado delas. Fiquei imensamente feliz em ter tido uma infância muito melhor.
Tinha a Xuxa, claro, mas tinha também Chico, Nara, Vinícius, Tom e um monte de gente que gravava coisas para crianças em um nível muito mais alto. Pobres criancinhas...
Não vi o fim da historinha, de qualquer forma, estava sendo muito doloroso.
Zap.
Multishow.
Susto – a Britney agora acha que é a Aguilera! No clip novo aparece montada em cima de um cara, o beija na boca, aparece loira e morena e termina vestida de aeromoça futurista... MEDO
Depois veio a Sangalo, cantando a música que foi sucesso no Carnaval do Brasil que todo mundo tinha ouvido menos eu (que, aliás, se chama “Sorte Grande” – eu tomei nota). E continuei não ouvindo bem, para falar a verdade, já que o clip era ao vivo e ela deixa as pessoas cantarem por ela. Mas nem a axé music é mais como era... Pelo menos eu não ouvi tanta batucada, nem vi tanta firula, nem aquilo tudo que a gente abominava tanto. Não, eu não virei fã de axé, só acho que ultimamente eles andam mais pro pop que pro axé “original”. Talvez não. Sei lá.
Aí, ó só que coisa bizarra: Nelly Furtado. Ela é engraçadinha, tem uma voz meio blergh, mas era lá um pouco competente. Eu sei lá o quê diabos aconteceu com ela, por que eu travei na frente na TV de boca aberta. O visual dela altera entre Fernanda Abreu cheia da marra, rapper de butique, esquimó e portuguesa e dentre outras coisas bizarras ela sai dançando fado acompanhada por uma turma a caráter onde você distingue, inclusive, uma criatura vestida de abelha gigante no meio! O som é inclassificável! E fado com abelha? Não entendi xongas. Bizarro.
Seguindo a ordem Multishow, entra o clip de “Que Dureza”, da turma do Casseta e Planeta. Presta atenção: uma ordem musical dessas, em ualquer lugar que seja já é assustador demais, Bussunda fazendo versão de Tim Maia, as caras e bocas deles tornaram meu desgosto maior ainda.
Como se não bastasse isso tudo, quando me preparava para desligar a TV, recebi um voador de uma abelha na cara! Shampoo com essência, cheio ou sei lá que caralho de frutas que seja atrai abelhas! Eu odeio abelhas! A TV não presta de manhã!
Eu devia ter ido à aula...
Desisto da TV, vou fechar as janelas, estudar um pouco por aqui mesmo e cumprir o resto do dia sem folgas e luxo antes que mais alguma traumática me aconteça!
...Porque foi muito trauma para um período de uma hora e meia...


terça-feira, março 2

No meio do Mundo chato, sujo e fedorento, a Vida continua...
Assim sendo, depois de acordar em plena madrugada com um desejo voraz de comer um chocolate, me conformei com a falta da iguaria e consegui retornar ao leito, estando de pé na hora que me cabe agora...
Nenhuma reclamação sobre a aula de terça-feira. Eu gosto de História da Arte e até me envergonho da trava mental que me acometeu semestre passado fazendo com que eu fosse obrigada a ter essas aulas de novo. Tenho um companheiro de classe que está na mesma situação e já fiz amiguinhos na turma, mas eu me sinto ridícula quando fico dando aula junto à professora. Porque é isso que acaba acontecendo. Tudo eu não sei, não. Mas faço os meus adendos, já que eu sou pequenininha, mas com uma boca enorme e hoje ela até chegou a perguntar minha opinião pessoal sobre certa teoria.
É excelente se eu parar para pensar que ela tem respeito por mim e acha que eu sou uma das melhores alunas dela, mas reforça o pensando de “como caralhos eu fui repetir nessa matéria?”...
Enfim...
Na hora do “recreio”, descobri que além da vigilância caseira e da vigilância do Gatinho, agora eu tenho patrulha antiquebra de dieta também na Faculdade. Na verdade, a patrulha já existe desde o semestre passado, mas nesse, eles estão pegando pesado. Além de elogios escandalosos, agora o Júlio virou meu personal doctor, que me monitora e ensina truques que nem Dr. Bolinha me ensinou até hoje.
O resumo é que eu quero cada vez mais que essa etapa dieta chegue ao “fim” logo, porque eu morro de culpa quando como alguma coisa que não devo escondida por causa das patrulhas e por ter virado exemplo para tanta gente. Não sabia que ia ter essa carga também na bagagem...
A primeira semana de re-adaptação está sendo mais que heavy metal.
Estou morta de sono non-stop.
Não consegui estudar nada hoje, tive que cumprir uma batelada de tarefas domésticas e babei. Babei muito.
...Mas e aí?
Um pouco melhor?
Não.
Minha única alegria foi conseguir comprar os meus cigarros que o Rio de Janeiro inteiro parece estar fumando agora também e estavam em falta há dias.
O resto continua uma merda.
Me irrita achar tudo uma merda, me irrita essa preocupação toda com tudo, me irritam as pessoas, me irrita estar irritada.
Nem pintar os cabelos serviu de alegria. Foi necessidade. E foda-se. Tô toda preta de novo.
Amanhã vou visitar Anitas.
Vou ganhar colo.
Vou ficar um pouco melhor, eu acho.
Até lá não me encham o saco, por favor.
Eu ainda quero tentar reclamar pouco.
Exercer meu direito, mas ciente de que a minha situação numa visão global do quesito merda não é lá tão ruim...
Insatisfatória no que diz respeito a realizações pessoais, mas não tão caótica assim.

Textos.
Textos fictícios.
Textos floreados.
Textos contemplativos.
Nada disso anda arrumando espaço dentro de mim para nascer.
Fui – estou – reduzida ao “Meu Querido Diário”.
E um “Meu Querido Diário” muito do vagabundo.
Onde não posso escrever tudo.
Onde, às vezes, não quero escrever tudo.
Onde esqueço de coisas importantes.
Onde me encontro tão exaurida, tão sem tempo e tão sem saco que acabo escrevendo poucas e boas porcarias.
Onde passo dias em branco e quando os passo, não consigo passar todas as suas cores.
Rotina é uma coisa que, por mais que eu não goste e não queira, existe na minha vida, mas que é sempre quebrada por pequenas coisas – como um dedo preso a uma janela – e têm lá as suas cores, nós é que deixamos as variações passarem desapercebidas.
Eu percebi isso, que deixo passarem cores, que algumas eu não percebo.
Um leve surto de insatisfação?
Sim.
Mas é leve.
Já passa.

Hoje, mais uma vez, não vou ter ficções, floreados ou longas contemplações; e provavelmente, deixarei muitas cores de lado, mas vou ao “Meu Querido Diário” vagabundo que aconteceram coisas que valeram o registro.

Quinta não aconteceu nada.
Foi um dia literalmente perdido.
Dormi, comi e dormi de novo.
Não vale nenhuma consideração.
Na verdade, fui acometida de uma leve paranóia produto do “Nada Para Fazer”. O tipo de coisa que acomete quando eu realmente não faço nada. Mas não vale nenhuma consideração.

O Dia Mais Esperado Para O Encerramento Do Ziriguidum Era A Sexta.
Foi quase uma sexta normal.
Cheia de compromissos do lar, como Mercado, louça e essas tarefas que eu volto a desempenhar mais uma vez na vida. Aqui em casa sempre foi assim. Se você (eu) não trabalha, vai ser Do Lar sem reclamar.
Mas a minha torcida era pela noite que viria...
Sim, sim!
Como a Torcida do Flamengo sabe, depois dos pais e namoradas, eu faço parte do pseudofã clube do Matanza e vou a todos os shows que estiverem ao meu alcance. Sexta era dia! Ruído Festival, no Ballroom, e de quebra eu ainda ia ver meu primeiro show do Arkham!
Já sabia de saída que iria encontrar uma batelada de amigos que eu não vejo sempre também.
Para arrematar, como eu sou uma mulher que acredita em horários impressos, apesar de saber que, nesses casos, eles não passam de mera formalidade, cheguei cedinho ao Humaitá e carreguei Dax e Chicote – dois dos meus meninos – para me fazerem companhia e cuti-cutis antes que o resto do povo mais normalzinho das idéias chegasse.
Esses dois são pessoas muito, muito especiais na minha vida. Fiquei impressionada quando fomos fazer as contas de há quanto tempo nos conhecemos! O tempo vai passando, você vai vivendo uma série de coisas com as pessoas, desenvolve todo um amor e uma história para e com elas e às vezes nem se dá conta!
Enfim, papo vai, papo vem, cerveja vai, cerveja vem...
O resumo da noite é que ela não ficou devendo a nenhuma noite trash de tempos antigos. As bandas de abertura foram dolorosas, todo mundo exagerou na bebida, eu caí (pra variar), cantei e dancei muito e ainda fui uma das últimas almas a saírem do lugar, pela porta dos fundos com tudo já fechado.
Meu estado estava tão alterado que, segundo a minha mãe, cheguei em casa literalmente chutando algum dos meus cachorros.
Seria uma noite perfeita se eu não tivesse acordado com uma ressaca pior que fenomenal e não tivesse discutido com o Gatinho.
A agravante da discussão é que eu ao menos me lembro do por quê de ter discutido com ele ou o quê eu disse. Agravante para a minha pequena pessoa, já que ele se lembra muito bem. Isso, definitivamente, não me deixou feliz.
Na verdade, me deixou bem preocupada, mas não há nada que eu possa fazer a respeito por enquanto. Já se passaram três dias e eu ainda não me lembro o que disse, de forma que não devo me lembrar mais mesmo...

Então sábado, a pessoa (eu) acorda sem conseguir fazer um ângulo de 90º graus com a cabeça sem ter a sensação de que ela vai explodir de fato, com roupas jogadas a sua volta como se tivessem saído voando em várias direções, com uma mãe mais carrancuda que as carrancas de navios pela casa, com a boca inchada (produto de um tombo, imagino), amnésia alcoólica e uma puta culpa moral por não lembrar de um fato tão importante. Excelente começo de dia!
Minha faceta Drama Queen que andava de férias desde a descoberta de que sentar e reclamar da Vida não adianta nem resolve nenhum dos meus problemas, despertou com toda a sua fúria assassina e conseguiu fazer do meu dia um dia mais feliz ainda!

Mesmo assim, Dea e Gu conseguiram me levar pro Empório com eles.
Inferno na Terra não teria melhor tradução, sorte que, como eu estava literalmente sóbria e sóbria eu fico com sono cedo, a minha mente desligou do resto do Mundo e foi legal passear com meus amigos, dar umas risadas, olhar o céu, essas coisas...

Domingo, em compensação, Madame Drama estava à toda!
Rolei, virei, rolei de novo...
Aí veio o telefonema.
Aparentemente, o tal chilique não foi tão ruim quanto eu achei que foi. Continuo não sabendo nada de coisa nenhuma sobre o quê realmente aconteceu, mas aconteceram outras coisas que baquearam tanto ele quanto eu e nós não pudemos nos ver e conversar sobre isso tudo.
Dani chegou, me ligou, conversamos e vamos tentar nos ver antes que minha amiga relapsa alce vôo de novo.
Veio o Oscar (ou a Festa do Anel, como preferirem), e a semana recomeçou.

Hoje foi o primeiro dia realmente porradão desde a volta às aulas.
O primeiro em que eu teria aulas de 8 às 17h.
Muita coisa, sinceramente, eu entendi pouco.
Com três horas de sono e muito na cabeça nem me senti constrangida em bocejar e lacrimejar durante toda a manhã. Hoje foi o primeiro dia de aula dos calouros na Faculdade e eu nunca tinha visto aquele lugar tão cheio! Só faltava o churrasquinho na calçada, já que multidão tinha e carro aberto com som alto também... Blergh!
Acabada a aula, corri na casa da vovó, porque eu também faço as honras de pombo correio. Claro que o sol tinha que brilhar com maior força nessa hora. Óbvio.
As acompanhantes dela me amam de paixão e foi quase impossível ler o jornal ou comer com calma sem ninguém em volta e a vovó está cada vez mais pequenininha. Eu fico bastante macambúzia quando vou lá... Ela não me reconhece mais, não anda, é bem triste...
Corri de volta rumo ao Humaitá, tive minha primeira aula sem grandes manifestações, já que estava alucinando de sono, bandeei para outra turma, passei pelo ritual de apresentação todo de novo – e eu já estou de saco cheio de apresentações – e, na medida do possível, tive uma boa aula. Gostei da minha professora.
No meio disso tudo, porém, a onipresença, essa coisa de estar nômade durante esse semestre me deu uma sensação horrorosa de não pertencer mais a lugar nenhum lá dentro. Eu sei muito sobre a Faculdade, os professores, as turmas, as matérias, sou uma espécie de guia do estudante perdido e, ao mesmo tempo, não tenho pouso certo.

Anitas chegou hoje. Exausta.

Aí veio ela de novo.
The Queen.
Esta vaca aterrisou de novo.
Estava levando uma vida despreocupada.
Ciente de que reclamar não leva a absolutamente nada.
De repente já estou preocupada com várias coisas.
Não sei se vou agüentar só estudar durante mais um semestre da minha vida, não estou feliz em estar sem produzir, em não ter meu próprio dinheiro e meus próprios perrengues, com a falta de perspectiva em ter um teto só meu, preocupada com ele, preocupada conosco, insegura...
Desmoronei.
De novo.
Penso em coisas que me disseram e eu aprendi do tipo “eu não posso ser tudo ao mesmo tempo” ou “calma que você está construindo caminhos para que as coisas aconteçam” ou qualquer outra baboseira psicológica que me sirva de consolo e me acalme.
Daqui a pouco eu me acalmo.
Daqui a pouco eu me habituo ao fuso horário e todo o resto.
Mas agora, hoje, nesse momentinho, ela está me dando uma surra.
Ganhando de duzentos a menos mil.
Não foi um bom dia.
Não me sinto bem.
Melhor dormir.

Amanhã talvez eu reclame mais.
Talvez tenha algum ataque de felicidade.
Talvez só apareça de novo daqui a alguns dias.

Leves reclamações sobre a vida...
Eu só preciso de colo...
Depois do colo eu fico melhorzinha...

Merda!