Vida Roxo

Crises de uma carioca perdida

sábado, janeiro 17

Eu preciso de uma coca-cola normal nível urgente.

sexta-feira, janeiro 16

Acordo com os cachorros uivando... Eu tenho três.
A mais nova está no cio e eles estão me enlouquecendo...
Boto um disco ultra barulhento para ver se escapo dos latidos de frustração do cão e fico um pouco mais calma...
Penso o quê diabos foi que fizeram com os baby dolls... Antigamente, roupa de dormir era uma coisa confortável, hoje até os baby dolls de algodão são fabricados com cintura baixa... Cintura baixa, para quem pode, é uma coisa até charmosinha... Eu estou começando a me acostumar a mais essa ditadura imposta a minha pessoa, mas não é lá muito confortável... Por causa disso, não posso mais usar as calcinhas que tanto gostava, tipo velhinha, bem enormes e confortáveis... Sai pelas calças. Tem isso também, a mulher finge que está bem, mas está sempre preocupada se vão ver alguma coisa quando ela se sentar... Se não são as calcinhas, é aquele pedacinho de bunda... Fomos reduzidas ao caricato do mecânico e eu preciso comprar calcinhas novas.
Preciso fazer compras: cigarros, manga, mate e filme de pvc.
Para isso que eu saio e com isso que eu volto.
Sair sem sutiã pode deixar a mulher em situações embaraçosas, já que peitos são coisas imprevisíveis... Sem meia também é burrice, o tênis me lascou o calcanhar todo e agora eu tenho um machucado... Voltei pra casa manca e pensando que devia ter saído de chinelos.
Sou uma fumante de merda. Nunca me acostumei aos isqueiros Zippo por falta de disciplina em ter pedras e fluido em casa, fora o problema do tamanho deles, então meus isqueiros bic vivem acabando... É o caso desse agora. Tenho certeza de que vai acabar hoje à noite, mas sou incapaz de comprar um novo antes que esse acabe. A mesma coisa com os cigarros. Sempre acabam. Sou incapaz de comprar um pacote e poder ficar enclausurada e feliz por mais ou menos dez dias dentro de casa, é sempre um ou dois maços. E os maços sempre acabam no meio da madrugada ou logo pela manhã. Mais de dez anos no vício e ainda fazendo essas coisas...
Então fiz a primeira compra do dia: cigarros.
O primeiro do maço é sempre o melhor quando você está sem eles já há algum tempo.
O caminho até o hortifruti é automático. Enquanto caminho só penso em besteiras... Sexo, homens, sexo, dinheiro, sexo... Nada que realmente preste para alguma coisa...
Tem duas semanas que, dia sim, dia não, eu vou até lá catar duas, de vez em quando três mangas. Minha fabulosa dieta. Se eu não fosse tão fresca no que diz respeito a frutas, talvez pudesse comprar logo a cota da semana inteira. Esse processo tem sido responsável pelo grosso das minhas saídas diárias... Se não precisasse das mangas e dos cigarros talvez não saísse de casa durante a semana. Movida a vício e vaidade, quem diria...
Compro uma quantidade Erva-Mate que vai render vários litros e penso se fumar esse negócio daria onda ou se eu só me sentiria com uma grande panela de chá dentro da cabeça...
Filme de PVC...
Tudo comprado... Tudo ok...
Volto pra casa, faço meu glorioso almoço, leio, falo com algumas pessoas no icq...
Meu cd player resolveu que não quer tocar cd nenhum, mas Deus inventou o computador, então mando tudo à merda que eu não estou com saco para resolver esse tipo de problema doméstico agora.
Hoje tem show na Sister Moon. Queriam que eu ficasse na porta com a lista de convidados... Odeio essa parte do trabalho. É preciso muita paciência, vocação e poucos amigos para desempenhar esse trabalho numa boa e eu não preencho nenhum desses requisitos. Falo que faço só se for um caso de vida ou morte, já que as pessoas são todas minhas amigas e por elas eu me submeto a certas coisas. A vontade mesmo é de ir, ver o que eu tenho que ver e dar o fora. Nenhuma vontade de trabalhar hoje. Claro que qualquer 20 pratas a mais não iam me matar e ainda pagavam algumas cervejas... Eu falo que não, mas até eu sei que é mentira, que eu muito provavelmente vou beber hoje, sim. Resolvi não fazer mais esse tipo de promessa. É o tipo que eu sempre quebro.
À medida que as horas passam, inclusive, não sei nem se vou ter vontade de ir até lá... É longe, o tempo está ruim, eu não tenho carona e, definitivamente, não estou com vontade de pegar nenhum táxi sozinha por um longo tempo... Além de dinheiro jogado fora, não estou na pilha de derepente acabar brigando com mais um deles...
Provavelmente acabarei indo a Bunker, como toda sexta-feira.
Eu devia ser capaz de me por um freio, porque nem estou com vontade de sair daqui, mas o Lado Negro da Força é mais forte e eu acabo saindo sempre.
Só espero que esse fim de semana seja diferente do passado.
O passado não foi bom, a saída durante a semana ia muito bem, obrigado, até terminar mal... As últimas saídas me deram dores de cabeça monstruosas, o quê explica a vontade de ficar em casa, mas eu sou uma mocinha esperançosa e cabeça dura...
As férias estão quase acabando e eu aqui, doida para ficar em casa mas pirando por ficar em casa.
“Como foram suas férias?”
Na frente do computador pensando.
Viajei pouco, saí pouco, fiz pouca merda e me culpei muito por elas, vi poucos shows, excelentes!
Aí olho pro relógio e vejo que já são cinco e meia da tarde...
Preciso correr...
Vou ao cinema, volto, me visto e vou sabe Deus lá praonde...
E acabou...
Diazinho mais besta.

E já passaram quinze dias do maravilhoso Ano Novo...

E, exatamente como eu previa, muito pouca coisa mudou.
Ainda.
Meu ritmo de vida é realmente lento, sou obrigada a admitir, mas aos poucos eu vou pondo as coisas no lugar... Ou tirando elas do lugar...
Continuo confiando nesse período.
Esse ano ou eu arrumo o palco principal pro resto poder correr bem e seguir bem ou, definitivamente, eu piro de vez.
E hoje eu tive a minha primeira crise do ano!
Daquelas que eu tenho de vez em quando do “aicaralhoeunãoqueromaisessavida”, mas, no meio dela, eu recorri ao óbvio: isso não é possível. Não existe essa opção no menu.
Nos últimos dias, entre quinta e ontem, para ser exata, aconteceram algumas coisas bem ruins, que me deixaram descompensada, o que põe por terra a minha declaração de estar mais serena... Pessoas serenas não brigam com taxistas porque estão descompensadas.
E mesmo que seja uma contradição, eu me sinto mais serena ainda.
Eu fiquei é puta da vida e fiz um bando de merda.
Tinha um tempo em que ficar puta da vida e sair por aí fazendo um bando de merda era bom pra mim, a diferença está justo nesse ponto, não é mais bom. Está ruim, resolve. Não faz.
Óbvio de novo, é que algumas coisas não dependem da sua resolução exclusiva, algumas coisas são feitas e geradas por terceiros e você não pode fazer nada a respeito. Pode ficar puta, pode triste, mas não pode resolver.
E seria uma zona se a gente pudesse mesmo. Já pensou um mundo onde todo mundo faz o que quer e resolve as coisas do jeito que quer na hora que quer? Nem eu queria um mundo assim...
Então, umas coisas me deixaram num estado alterado.
Mas o estado alterado e tudo o que eu fiz me ajudou a ver coisas, decidir coisas.
Eu ando numa discussão imensa com o meu tesão.
Tesão é a razão da existência de pessoas como eu.
Eu só gosto e quero coisas pelas quais eu tenho tesão.
E quando digo isso, não é nem no sentido sexual da palavra tesão, é no sentido do querer. Para trabalho, amor, família, vida...
Para todas essas coisas eu preciso ter tesão.
E eu me vi em situações que não dão o menor tesão, fazendo coisas e escolhas que não me dão o menor tesão.
Eu descobri e fiz uma lista mental de todas essas coisas.
Coisas que eu não quero mais.
Não é só gaveta, armário e papel que precisam de arrumação, vez ou outra a gente precisa faxinar a cabeça, os conceitos e as atitudes da gente em relação a nós mesmos e ao mundo. E é isso que eu estou fazendo.
Ah, eu tenho ajuda, é verdade... Amigos que escutam, que debatem, que aconselham, que andam me ajudando imensamente nessa fase esquisita, mas isso é assunto de outro post...
Fazer escolhas é uma merda, até prefiro que façam algumas por mim tipo programa para sair, comida para escolher, mas algumas eu tenho que fazer solo. Mudar as coisas é doloroso e lento, mas é preciso.
O solo todo é complicado. Uma modalidade pra lá de complicada.
Tudo isso é muito complicado para uma pessoa como eu, chegada num drama, num escapismo, numas de largar as coisas inacabadas. Mas até esses meus “hábitos” estão mudando. Luto com eles diariamente.
Enfim, coisas estão mudando.
Coisas estão acontecendo.
Outras não vão mais acontecer.
Nós estão sendo feitos e desfeitos.
Ou vai dar certo ou vocês vão me visitar no Pinel.

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Uma Mulher tão Maravilhosa não precisa disso.
Descobrir a maravilha de pessoa que você é ajuda.
E, porra, eu sou uma maravilha de pessoa.

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Não revirei armários, ouvi discos antigos ou fiz nada de valor realmente expressivo hoje. Conversei muito. Ajudou muito, obrigada de novo. Pensei muito. E quer saber do quê mais? Eu mando mau pacas em jogos de simulação...

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E nesse momento eu rezo pro Dr. aceitar me retalhar urgente.
Mamãe trouxe mais livros pra casa hoje, preciso me afastar de algumas coisas, então um descanso forçado ia vir bem a calhar. É a desculpa perfeita para reclamar em paz e para ficar em paz. Vou sentir dores cavalares, é verdade, eu sei. Mas eu ando precisando de paz.
Mais do que ando tendo. A cota atual ainda está baixa.
Até faço combinado: eu não encho o saco de ninguém e ninguém me enche o saco, que tal? Me parece uma barganha e tanto, considerando que eu sou muito, muito boa em encher o saco alheio...

E chega por hoje...
Amanhã é um novo dia...
Um novo texto...
Novas coisas...

quinta-feira, janeiro 15

Vamos lá que essa merece ser respondida em aberto...

Rêzinha meu anjo, sim, eu gosto de Los Hermanos.
Já gostei mais, é verdade.
As letras e músicas do primeiro disco são excelentes.
E qualquer pessoinha metida a alternativa da minha idade que te disser que não ouvia Los Hermanos quando eles não eram os Los Hermanos de hoje, está te dizendo uma mentira deslavada.

Beijos!

...E que eu quase entrei na porrada com o taxista...
...E que vagabunda é mãe dele...

Vamo brincar que o show foi bom pra caralho, que eu tô bêbada, perdi o que eu achava que fosse um bom amigo e que isso não só torna a minha vida mais complicada como mais triste...

quarta-feira, janeiro 14

Droga, odeio quando acaba o cigarro.

Mas, hein...

Com essa estória de arrumação de início de ano eu arrumei os cds.
Tudo bonitinho, em ordem alfabética, nacionais, internacionais, mais ouvidos, menos ouvidos, demos, tudo lindinho.
Aí resolvi começar a escutar os cds.
Porque eu escuto muita música.
Música acalma os monstros.
E sozinha em casa eu posso botar bem alto, do jeito que música deve ser ouvida, até porque a Dê, minha vizinha de janela diz que eu tenho muito bom gosto e não atrapalho ela em nada e o resto acha que eu sou cria do demônio e não apita.
Aí ontem eu escutei quase todos os meus cds dos Titãs...
Tá, hoje eles estão meio sem aquele tcham que tinham na época que eu gostava, mas foi a primeira banda de rock que eu ouvi, tem todo um valor emocional.
Até ir a um show deles, sinceramente, eu nem sabia o que tocava nas rádios, o que os meus amigos ouviam, nada vezes nada, aqui em casa era MPB na veia. Só com uns 12 anos que eu fui descobrir outras coisas, que as músicas das festinhas faziam mais sentido, que eu comecei a ir à matines das boates, e que eu fui ao meu primeiro show de rock.
Aí que eu desviei... Foi uma coisa tão maravilhosa! Eu nunca tinha visto aquilo na vida! Nunca tinha ouvido música tocada com todo aquele barulho e toda aquela movimentação e todas aquelas luzes! Foi criança na Disneylândia legal...
Ainda dei “sorte”, porque naquela época eu tinha asma e tive um ataque logo no início do show por ficar prensada na grade (eu fui com uma amiga mais velha que fazia escola de artes comigo e que era super fã e quis ficar na grade) e os seguranças bonzinhos me passaram pro lado de lá da grade de onde eu pude ver tudo sentadinha, quietinha, babando, de pertinho, numa boa...
Esse show é culpado de muita coisa!
Boa parte da minha adolescência eu fui groupie dos caras, de esperar depois do show na saída, catar set list pisado, ir a todos os shows... Tem muita história, muito perrengue, muita coisa... Um dia, do nada, eu passei a não ligar muito... Ainda preciso de alguns discos, mas...
Foi tão legal ouvir os discos de novo! Cantar junto, descobrir que eu ainda sabia as letras...!

Aí hoje, depois que me torturaram, lá fui eu continuar o desenterro...
To aqui a tarde toda, Little Quail, Los Djangos, Planet Hemp, Los Hermanos, só ouvindo uns discos que não tocavam aqui em casa tinha um tempo...
Cada um deles traz lembranças do além...
Ataques de nostalgia, lembrança de histórias...
Poxa, muito, muito legal...
Aí só por isso, mesmo achando caro a valer, resolvi ir assistir ao Acabou La Tequila.
Vou arrumar troço nenhum, vou pro Sérgio Porto me entupir de mais revival!

Um dia, quem sabe eu começo a contar algumas dessas histórias desses tempos antigos...

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Ok, é realmente ridículo uma mulher com 5 furos na cara e 2 tatuagens ter medinho e reclamar tanto de ir fazer uma melequinha dum exame de sangue, mas eu não gosto de ninguém ficar pegando meu sangue por aí, caramba! Ainda mais que um examinho, virou dois, que vai virar três... Aí é sacanagem... Vou ficar por aí parecendo junkie nível 20, cheia de furo nas veias...!

Não é nada errado, não... Dr. Bolinha só quer saber a quantas anda meu sistema depois de tanto peso perdido, bolinhas e afins... E no mais, se eu penso em entrar na faca daqui a duas semanas, vou precisar mesmo...
Na verdade, estou me sentindo maravilhosa. Vou ficar até triste se tiver alguma coisa errada.

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E a Frase da Semana é:

“Uma Mulher tão Maravilhosa não precisa disso!”

É minha mesmo...
Depois do Ataque da Pomba Gira/ Puta Fim de Festa vergonhoso do último fim de semana, a frase é essa.
To voltando a ficar besta, graças a Deus!
Besta e modesta... hehehehe
Mas uma Mulher tão bonita, inteligente e foda como eu não precisa de certas coisas e situações. É feio.
Sempre tive desses ataques, mas antes podia... Agora que cheguei à conclusão de que sou a Mulher Perfeita em 85% da minha essência (um dia eu explico como foi que eu cheguei à essa conclusão), não pode. E nem eu gosto.
De vez em quando pode um ataque desses por que eu também sou humana, os dois conjugados é que não pode nunca mais!
Palmas pra mim!!!

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Eu juro que estou tentando mudar pelo menos as cores desse raio desse blog, mas eu fiquei burra, tomei uma surra do editor hoje, então vamos todos ser mais pacientes...

Furaram meu bracinho...
Tiraram três tubinhos enormes de sangue...
Tá doendo... :(
Tô fraquinha...

Em compensação eu comprei muitas flores para enfeitar a casa na volta e a Dra. desmarcou a consulta e eu vou poder começar a rrumar o meu quarto e andar na praia!

Mas meu bracinho tá doendo mesmo... :(

Certas coisas você precisa...
Certas não...
Eu só preciso e quero coisa boa pra minha vida...
Coisas que me dêm tesão...
Preciso parar com essa mania de catar dor de cabeça...
De escolher coisas ruins...
Dessas coisas eu não preciso...

terça-feira, janeiro 13

Pensando na Vida – Parte II

Família

Família, família,
Papai, mamãe, titia,
Família, família,
Almoça junto todo dia,
Nunca perde essa mania.
Mas quando a filha quer fugir de casa
Precisa descolar um ganha-pão
Filha de família se não casa
Papai, mamãe, não dão nenhum tostão.
Família ê.
Família á.
Família.

Toda família tem suas manias, coisas engraçadas, podres e afins. E a convivência com essas pessoas, o modo que elas vão interferir na sua vida, tudo que vão lhe ensinar, tudo que vão estragar é diretamente ligado ao que você vai se tornar como pessoa. À escolhas e modelos que você vai ter e resolver se vai seguir ou não.
Mas no fundo, no fundo, você vai estar sempre ligado à essas pessoas. Pessoas que você não escolheu conhecer e conviver, mas são da sua família, fazem parte da sua vida quer você queira ou não, goste delas ou não.
E é dificílimo pensar nelas e falar sobre como a sua (minha) vida é e sempre foi afetada por elas.

Apesar de, num total, a minha família ser enorme, eu me acostumei somente com alguns dela... O marco zero dessas relações todas, claro, são meus pais.

Papai, vamos começar assim, nasceu em primeiro de abril, é daltônico, tem 2 ex-mulheres e uma atual, 4 filhos, é manco de um pé por causa de uma queda do telhado de casa numa situação absolutamente estúpida e teve um cachorro asmático e com problema de coração... Um cara com esse currículo não pode ter sorte na vida...
É um exemplo perfeito de talento desperdiçado. Puta desenhista, mas a quantidade de cagadas já feitas na vida fizeram com que ele hoje trabalhe desenhando perspectivas maravilhosas para clientes mais ou menos e ganhando muito pouco... Pouco antes do Natal, me ligou todo feliz por que ia ser contratado finalmente pela firma em que trabalha... Isso me angustiou um pouco... A pessoa ficar exultante porque vai virar empregada com 53 anos não é exatamente uma coisa excelente ao meu ver...
A vida dele foi cagada por uma série de casamentos mal sucedidos, uma penca de filhos e o alcoolismo... O alcoolismo atrapalhou boa parte do nosso relacionamento, por sinal... Aos 4 anos, eu o trouxe da casa onde ele morava em São Paulo para o Rio depois que ele quebrou metade da casa e terminou com a que era a sua atual esposa, enquanto ele se deixava levar pela minha então mais minúscula ainda figura... Durante a infância, apenas alguns fatos relacionados a isso marcaram de verdade... Ele era meu paizinho... De quem eu também me lembro de ter costurado roupinhas para as minhas bonecas na mão mesmo com o braço quebrado... Que eu amava loucamente por mais que passasse meses sem aparecer...
Na adolescência eu comecei a brigar com ele... Ele resolveu se mudar do Rio e foi morar em Areal com a esposa e o meu irmão, minha irmã estava a caminho... Mas dois cabeçudos quando se encontram não dá certo... E eu comecei a ver que não era mais criança e que podia discutir com ele, sim...
Durante vários anos então, a cada encontro rolava pelo menos uma porrada séria... E a coisa foi deixando de ficar prazerosa... Passou a ser quase um sacrifício me encontrar com ele...
A bomba foi quando meu irmão sumido (eu tenho um desses) resolveu vir “nos conhecer”... A partir do momento que o Rafa entrou no avião, nós paramos de nos falar... Passamos uns dois anos assim, o que acabou por prejudicar um bocado o resto do relacionamento com o resto da família, até a minha mãe ameaçar morrer...
Por muitos meses, eu nem comentei nada, mas quando ela ficou na dúvida se ia e a gente começou a achar que ia mesmo, me achei na obrigação de avisar... Aos poucos, estamos reconstruindo a nossa relação desde esse telefonema... Ele parou de beber um ano depois que eu parei de falar com ele, começou a freqüentar a igreja e sonha com uma casa em Cabo Frio, para poder olhar os “brotos” e comer peixe frito...
Hoje, eu só quero coisas boas pra ele... Quero que ele consiga a casinha dele, quero que alguém dê os netinhos que ele tanto quer, quero que ele possa ter uma velhice tranqüila ao lado das pessoas que ama... Assim como acredito que ele também... Acredito que a grande maioria das brigas eram com intenção de proteger o bebê dele... Com os outros, talvez tenha sido diferente, mas por estar longe, eu sempre fui o bebê dele...
Também zerei tudo com ele... Quando eu vou lá hoje em dia, quase me afoga de tantos beijos e carinhos e atenções... Dá um certo trabalho corresponder à altura...
Ele entendeu que passou e perdeu muita coisa, eu também... Ele é lindinho do jeitinho dele, entalando em porta de igreja, manco por que caiu do telhado, ficando ceguinho e pedindo ajuda para colorir os projetos...
Hoje, além de bebê, primogênita e essas coisas todas, somos amigos.
Dele eu herdei o gênio, o (dizem) talento para desenhar, a estrutura genética (rosto igual e o barrigão), o jeitinho vira-lata, 3 irmãos maravilhosos, o vício em quadrinhos e filmes de péssima qualidade e teor mais uma tonelada de outras coisas que todo pai, mesmo que longe, acaba ensinando aos filhos...
Eu sou muito parecida com ele.

Mamãe é foda. Nascida em bercinho de ouro, mimada pela mãe por ser a mais nova das filhas, educada em colégios de primeira, formada no Normal como toda moça de família da sua época, tinha todo para ser uma dondoquinha mas escolheu fazer tudo diferente.
Era namoradeira, viajou meio mundo com a família...
Imagino que metade do que ela passa comigo, vovó deve ter passado com ela, porque ela também era bem doidinha (e eu tenho aqui uns discos tipo Black Sabbath e King Crimson para provar). Doidinha, mas com qualidades que eu invejo muito (e talvez até tenha herdado um pouco): sempre foi muito determinada e independente. Sempre muito culta, politizada, fazendo as coisas do jeito que queria.
A força dela é uma coisa espantosa!
Um pouco disso eu tenho também, mas o que eu tenho de força, ela tem em dobro.
Quando era professora, dava aulas em favelas para ganhar o seu dinheiro, mesmo que não precisasse fazer isso. Meio que morou com meu pai antes de casar, coisa não muito comum naquela época. Tinha amigos barbudos, cabeludos, beberrões.
Casou na igreja, é verdade, mas de vestidinho simples e chapeuzinho. Sem pompas. Num 31 de outubro. E assim que eu nasci, se separou do meu pai. Quando eu tinha 6 meses, ela morava sozinha, me criava sozinha, me sustentava sozinha, trabalhava...
Tem isso, mamãe, do meu ponto de vista, sempre foi muito sozinha. Primeiro por escolha, depois por hábito. E naquela época, ainda existia aquela coisa de preconceito com mulheres divorciadas e que criavam seus filhos sozinha, algum problema com isso ela deve ter tido, mas ela foi capaz de me educar de forma a achar que tudo isso era muito normal.
Sei que ela teve muito, muito trabalho para poder me criar como gostaria, poder me dar as coisas que eu queria e me por em colégios legais.
Enquanto meu pai saiu casando e fazendo filhos por aí, me lembro de poucos namorados da mamãe. Me lembro que não gostava muito disso e que mostrava os slides do casamento dela sempre que um deles vinha aqui em casa. Tem um tempo que ela desistiu dos homens, eu acho... Mas assim como eu omito certas coisas, é bem provável que ela faça isso também. A nossa relação é legal e amiga, mas nem tudo que acontece você conta para a sua mãe e vice-versa.
Mesmo assim, um dia eu descobri essa coisa de alcoolismo. Eu não sabia que mamãe bebia tanto por causa disso. Por causa de um fim de relacionamento (hoje eu sei disso) ela se enfiou na cama e lá ficava bebendo e dormindo. Ficou assim por um bom tempo. Mas como eu fui praticamente criada no bar... E um dia ela levantou e resolveu se internar numa clínica de reabilitação. Ninguém acreditava que ela ia conseguir ficar longe da bebida e das bolinhas, mas ela surpreendeu todos nós. Faz 13 anos que ela não põe uma gota de álcool na boca. E depois desse episódio mudou de profissão: virou psicoterapeuta. Foi ajudar pessoas que eram como ela a se recuperarem. E eu tenho muito orgulho dela por isso.
Hoje ela adora o trabalho que tem.
E veio a minha adolescência, vieram barras, vieram coisas pra caramba, e um dia veio o diagnóstico: câncer. Injusto pra caralho. Barra pesadíssima. Eu tinha saído de casa e voltei para ficar do lado dela. Quimio, Rádio, enjôos, médicos, cirurgia. Ela foi pro hospital para fazer uma, fez 4, procedimentos diversos, deveria ficar uma semana, ficou 3 meses. Mas ela resolveu que não ia ser isso que ia levar embora também, não.
Hoje, passados quase dois anos, está tudo bem. Nota 10 em todos os exames.
Depois disso ela mudou um bocado... Parece que tomou mais gosto ainda pela vida... Sai mais, pintou os cabelos de vermelho, está deixando eles crescerem, está mais vaidosa, com mais amigos...
Em todos os sentidos essa mulher é minha heroína, meu porto seguro, a maior força e apoio que tenho. Eu moro com ela, divido a minha vida com ela, com essa coisa pequenininha, viciada em dieta, que pode ser a mais boba do mundo quando fala a Minduínha, que me protege com garras e dentes, que mesmo tão minúscula é tão enorme e bonita.
Quero também que ela consiga ser muito mais feliz, que ela tenha tudo que deseja, que a vida dê um break por um tempo porque ela merece coisas muito melhores que eu sei que vai conseguir.
Dela eu herdei alguma independência, força, inteligência, solidão, a estatura, o gosto por livros e música e entre outras muitas coisas...

Como esses dois se conheceram e se gostaram eu não tenho idéia... Mesmo se tivesse, é assunto deles, história deles... A parte que me cabe é a de filha dos dois. Como filha, sempre foi muito normal ter os dois separados. Eu fui um bebê planejado, esperado.
Os Martins são craques na procriação, mas as Roxo não são lá muito boas... Na verdade, péssimas. Então teve toda aquela história de tratamento, temperatura, dia e hora para ver se eu vinha. Um dia eu vim.
E sou, cara, uma garota muito amada por eles.
E tudo bem, com uma dupla dessas, eu devia ter saído da maternidade direto pro terapeuta, por que só esses dois já me fizeram passar por tanta coisa heavy metal...!
Mesmo assim, hoje, eu não trocava por outros, não. Eles me ensinaram tanta coisa! Me fizeram essa pessoinha pequena, vira-lata, que tem mania de querer fazer as coisas sozinha, que gosta muito de sair, que tem essa tendência a gostar de tudo que não presta, que exercita a inteligência o quanto pode, que gosta tanto do trash quanto do bom, com uma dose de bondade perigosíssima dentro de si, com valores raros, essa pessoinha, entendem?

(Uma pergunta que deve ocorrer também é como diabos com pais assim eu não tenho cuidado e bebo tanto... Eu tenho cuidado à minha maneira, mas o gosto pela boteco é herança também, né?)

Mas uma família não é feita só de duas pessoas.
Bom, até é, mas é aquilo que eu disse, acaba englobando mais gente do que a gente gostaria. E, da minha geração, eu fui a primeira a dar o ar da graça em ambas as famílias. Não tive primos da minha idade e por quatro anos fui mesmo a princesinha da família. Mimada, amada, beijada, fotografada. Até o nascimento da Lú, que veio a ser minha prima mais próxima e amiga da adolescência até hoje em dia.

E os Martins têm isso... Meu relacionamento com as pessoas dessa parte – tirando o meu avô - é amigo, bacana, mas cuja a ponte sempre foi meu pai. Com as nossas idas e vindas, essas pessoas pouco influíram na minha educação, todas concordam que o trabalho foi bem feito e que não era tarefa deles. São pessoas que eu tenho gostado de ver e estar junto, só não precisa ser ao mesmo tempo...

Porque as Roxo são só quatro...
Meu costume nesses casos é pouca gente, pouca interferência e pouca demanda.
Mas nessa família, além de primeira eu sou a única e a última.
Nenhuma das minhas tias teve filhos, as expectativas e mimos e atenções sempre foram muito voltadas pra mim.

Vovó está em Marraquesh. Há muitos anos. Imagino como ela devia ser com as meninas, já que nunca teve muito jeito comigo... Ou talvez não tivesse por causa da minha criação, mas quando estava aqui de corpo presente me paparicava um bocado... Hoje, a única coisa que ela faz é comer biscoito de chocolate com açúcar... Tenho certeza de que ficou assim por que a pessoa precisa de alguma ocupação na vida e vovó não tinha nenhuma além de ver “Sem Censura” e ler Seleções...

Minha tia mais velha, não teve filhos, morou com a vovó até bem tarde, é aposentada e começou a curtir de verdade a vida depois disso, viaja para lugares exóticos pelo menos uma ou duas vezes por ano, adora ir ao cinema, ler, ver novelas e sempre foi a tia mais grudada comigo. E eu com ela. Tem um jeitinho debochado, adora amarelo, me enche o saco, mas vai ser sempre a Titia.

A do meio é mais low profile no que diz respeito a mim. Escultora, titia é uma mulher muito fina, tão fina que enjoa, jantar é à luz de velas, bebida é vinho ou champanhe, comida é a cara, tem certeza de que nasceu no Brasil por engano, mas é boa, muito boa. Tenho a impressão de que ela seria muito mais feliz se eu fosse uma moça mais fina, do tipo que come salmão com figo, coisa que eu não sou. Se eu precisar, tenho certeza de que ela vai fazer o possível para ajudar, mas ela escolheu viver a vida dela lá com o marido (que é um cara igual a ela e meu xodó, é o quinto Roxo) e pronto. Não se conformou ainda com o estado da vovó...

E eu não exatamente quando, fui inventando e tomando pra mim responsabilidades que não me cabiam ainda, como a obrigação de constituir família, ter filhos e marido como manda o “regulamento”, por exemplo.
A minha preocupação com filhos vem do fato de ser a última dessa parte da família. Se eu não procriar, essa parte acaba. Isso continua sendo lá uma verdade, eu continuo querendo filhotinhos, mas a preocupação em torno disso tudo diminuiu consideravelmente. Na verdade, agradeço a Deus por não ter feito isso acontecer ainda...
Quando elas ficarem velhas de fato, a única pessoa para cuidar delas será a madame aqui, mas eu encanei com isso muito cedo e deixei de fazer muita coisa pensando nessa responsabilidade que não é minha ainda... Até o dia em que eu percebi isso e resolvi tomar conta e construir a minha própria vida.
Passei muito tempo com medo de que fosse ser igual à minha tia mais velha, que morou com a vovó até depois dos 40 anos, que o meu curso de vida fosse ser exatamente como o quê o delas tem de pior... Hoje, eu sei que quem escreve a minha história sou eu e o curso dela só depende de mim.
Existe um cordão umbilical que me prende a essas mulheres todas tão queridas e que depositam tantos sentimentos em mim. É claro que elas sempre interferiram na minha vida de algumas formas e continuam e vão continuar o fazendo pelo resto da vida porque querem o melhor pra mim, rezam para que eu encontre o meu caminho e seja feliz; eu vivo por causa delas, mas não mais só para elas...
E eu ainda tenho algumas neuras menos sérias por causa delas, mas aos poucos eu vou resolvendo...
Elas me aporrinham, me enlouquecem, me amam, são as minhas mulheres enfim...

E tem muito mais...
Tem a tia autoritária, a muambeira, a prima louca, a prima puta, o tio que pega garotinha, o avô que teve filho fora de casa, o tio que cheira, todos esses outros personagens, que, de uma forma ou de outra, fazem parte da minha história...

Estou aprendendo a lidar com essa família, a ter prazer de estar com ela, a deixar de ter neuras por causa dela, a aceitar e amar essas pessoas o máximo que eu puder... Deixei de culpar as pessoas por erros que eu cometi, deixei de esperar por elas, deixei de lado todas as porcarias e calafrios que eles me davam... Que nem todo o resto, entrei numas de curtir essas pessoas, que eu não troco por outras e agradeço por ter por perto...
As pessoas que eu não pedi pra ter e tenho. Olha só que sorte a minha!

A minha, no fim das contas é uma família como outra qualquer...

E aí? Certinho?

Sumi sem dar satisfação, não deixei telefone, ninguém que sabe de mim por aqui ficou sabendo de nada...
Coisa feia da minha parte.
Mas, como eu expliquei anteriormente, existem mil coisas que eu preciso fazer. O tempo corre mais rápido do que eu gostaria, já tenho menos que um mês de férias. E me faltou saco para escrever.
O nocaute já passou.
A falta de compensação também.
Tá tudo mais ou menos normalzinho agora.
Pensando na vida?
Oh yeah!
Desde o início deste ano que é o que eu mais faço.
Não terminei, não.
Talvez não termine nunca, já que a cabeça não descansa.
Faz praticamente uma semana que eu fico aqui sentadona só pensando.
Jogando e pensando.
Paciência e seus similares são jogos que além de (para a minha mente doentia) oráculos do Mundo Moderno, me ajudam a pensar.
Estou conseguindo ler meus livros, ver meus filmes e arrumar a casa.
Andar na praia ainda não consegui, mas só falta terminar de ler quatro livros (dois no fim, dois no início) e arrumar meu quarto.
Essa é a pior parte.
Cancerianos deveriam ser proibidos por lei de ter tantas prateleiras e gavetas, por que papéis e papéis e badulaques e todo tipo de porcaria vão se empilhando lentamente nesses lugares e na hora de limpar, além de não querer jogar nada fora, é muita coisa. Muita coisa cheia de poeira. Poeira que eu sou alérgica, por sinal.
Então esse tipo de arrumação é sinistra.
Precisa de tempo, Polaramine e muitos, muitos sacos de lixo.
Mas vai ter que sair.
Verdade que eu ando preguiçosa também. Muito.
Preciso ainda ver alguns amigos do coração, preciso ligar pra eles, preciso coisa pra caramba.
A dor alucinante que eu havia desenvolvido nas costelas diminuiu e quase não existe mais. Em compensação, a TPM está aí. Preferia a dor nas costelas.
Achei meus óculos.
Preciso fazer as unhas.
Estou aprendendo tudo sobre os diferentes tipos de manga (a fruta) existentes no mercado.
A dieta vai bem, tirando as 10 toneladas de chopp que eu bebi fim de semana passado.
Minha coisa esquisita com cheiros voltou.
Continuo fumando pra caralho.
Continuo desbocada até o fim da alma também.
Tive um ataque de Pomba Gira Bêbada do Inferno esse fim de semana, para decepção dos meus anjos da guarda que andavam tão contentinhos com a minha conduta noturna.
Estou desencavando uns discos que não ouvia fazia tempo.
E sei lá...
Acho que as coisas estão meio assim mesmo...
Algumas decisões lá dentro da minha cabecinha eu já tomei, as outras, mais práticas e eficazes só vou poder fazer depois de segunda.
Segunda eu tenho Dr.. Vamos ver o que ele fala. Dependendo, tudo pode mudar e tudo pode acontecer.
Não quero tomar mais nenhuma decisão ou fazer mais nenhum plano até lá.
Talvez eu volte logo a explicar melhor as coisas em vez de deixa-las nas entrelinhas.
Falar mais dos meus amigos, dos meus baldes.
Talvez.
Mas, por enquanto ta explicado de bom tamanho e jeito.
Agora, com licença que eu vou parir a parte 2 da confusão toda...